Fundamentos e Rotina de Estudos no Trompete

por Professor Wagner Felix

wagner felix

I – Fundamentos

• O que são os Fundamentos para vocês?

Chales Vernon diz que: “Devemos ter os fundamentos muito sólidos, só assim poderemos tocar qualquer coisa.”

Na maioria das vezes é mais importante COMO vôce estuda do que, O QUE vôce estuda. Se pensarmos de maneira simples, os fundamentos dos instrumentos de metais são: 1 – Ar; ter um controle da respiração e da emissão do som. 2- Embocadura; flexibilidade dos lábios. 3-Mecânica; coordenar língua e dedos. E outro tópico importante é o Cérebro; pensar no que está fazendo o tempo todo.

1- Ar

O ar para os instrumentistas de metal é o combustível para a produção de um bom som. Assim como os carros de motores grandes, que consomem muito combustível, uma embocadura boa e eficiente também vai consumir uma quantidade maior de ar. O ar é voz musical para o instrumentista de sopro é o ar que vai te direcionar nos ataques, nas frases e nas dinâmicas. Você precisa trabalhar com o ar mas tendo a consiência dos músculos envolvidos na inpiração e na expiração para criar a resistência necesária para que o ar trabalhe de maneira enficiênte.

• Mas como usar o ar?

Para respoder isso, primeiramente precisamos ter a consiência dos múculos envolvidos na respiração. O processo de respiração existe em três etapas simples. 1. Respiração baixa ou intercostal. (próxima ao umbigo e costelas inferiores) 2. Respiração média (na altura do abdomem)

3. Respiração alta (na altura do peito). É importante ter a consiênciada da entrada do ar sem prendê-lo, causando uma tensão desnecesária.

Exemplo: dedo indicador nos lábios, posição de língua de ô e respiração.

A postura corporal, seja ela – sentado ou em pé – é fundamentantal para uma boa respiração. Precisamos estar relaxados e quando respiramos possamos expandir o corpo e deixar uma quantidade maior de ar entrar. Precisamos de mais quantidade de ar para tocar o instrumento de sopro do que necessitamos para viver. É importante que nunca tocamos no limite do ar e sim com reserva. Ter uma boa quantidade de ar vai fazer com que você toque de maneira mais segura e eficiente.

Ter o controle do ar ou da coluna de ar, está ligado com a quantidade do fluxo de ar, ou seja, se você tem uma coluna de ar rápida ou lenta. A coluna de ar e a língua devem trabalhar de forma coordenada. “O ar realiza o trabalho e a língua canaliza para a altura das notas”1 – Michel Sachs. Os lead trumpets tocam com um ar muito rápido e sem apertar o bacal contra os lábios. Essa compressão de ar é que vai dar a sustentação para as notas agudas. Não podemos esquecer que a garganta e a língua não podem impedir a passagem do ar.

Uwe Köller diz que, “ Pensa o ar como se estivesse em uma balança. De um lado a quantidade e de outro a qualidade.” Isso quer dizer que, se você tem uma semínima para tocar, um dó grave piano, por exemplo, você não precisa ter uma respiração completa, apenas o suficiente para soar bem.

2- Embocadura

O conjunto dos músculos da face tem a funçao de manter os lábios vibrando. Se você tiver um ar bem focado e uma vibração rica consequentemente isso vai amplificar o seu som e a qualidade sonora vai ser notada imediatamente. Fazendo com que a sua vibração seja mais livre e com boa ressonância. O desenvolvimento da embocadura vai acontecer se você tiver o controle e o ajuste da flexibilidade dos seus lábios. Alguns estudos como calistenia, pedais ou agudos eu não

1 Sachs, Michel falando sobre o método de Claude Gordon.

recomendo para aqueles que ainda tem a embocadura jovem, por exemplo alguém com menos de um ano de trompete, o risco desse trompetista se perder no caminho ou se machucar é grande. Por isso, tenha sempre um professor para te orientar.

O trompetista seja ele em qualquer nível, deve ter uma sistemática agenda de estudo. É justamente onde a maioria dos alunos criam maus hábitos. Por exemplo, vamos imaginar um aluno X em uma semana inteita. Esse aluno tem duas horas de estudo no primeiro dia. Meia hora no dia seguinte. Nada no terceiro dia. Mais uma hora no quarto dia. Nada no quinto dia. Duas horas no sexto dia e nada no sétimo.

• O que vocês acham? Essa embocadura vai ter o máximo do desenvolvimento?

Precisamos ter regularidade na quantidade de horas para termos um bom desenvolvimento da embocadura, os músculos envolvidos na embocadura devem ter cargas diárias de peso, mesmo que essa regularidade seja alguns minutos diários. Arnold Jacobs dizia que: “Tente praticar um pouco de muito do que muito de pouco.” Falaremos mais disso na sessão de Rotina.

Para o bom desenvolvimento da embocadura estudar descansando é fundamental.

• Descanso

O desenvolvimento da embocadura também está ligado ao tempo de descanso e recuperação dos lábios e dos músculos até a próxima sessão de estudos. Repetir padrões corretos vai tornar a sua vida de estudo muito mais prazerosa e gratificante.

Maurice André era conhecido por estudar o dia todo mas em pequenas doses. Vachianno dizia que: “É melhor colocar o trompete no estojo quando ainda os lábios estão inteiros.” Descansos estratégicos são benéficos, enquanto o estudo descontrolado e forte, trazem enormes prejuízos, destruindo os nossos lábios.

Divida sua sessão de estudos em períodos curtos de 20-25 minutos para cada assunto durante o dia todo. Existe a fadiga muscular e a fadiga mental, por muitas vezes estamos insistindo em algo que está pior do que começou. Depois de 30 minutos o cérebro está cansado. E vocês

acham que isso é um padrão bom? Você pode usar um despertador ou alarme para monitorar cada sessão dessas. Se no seu planejamento você programou de descansar 10 minutos por exemplo, faça acontecer. Segure a vontade de tocar e lembre-se que os músculos precisam desse tempo para se recompor.

3- Mecânica

Se analizarmos bem, nós trompetistas temos um típo de cordenação incomum, temos que coordenar língua e dedos. Aqui entra todos os tipos de articulações, estilos, frases, etc etc. Se não tivermos essa cordenação bem definida a música não sai. Para ter esse tipo de contre precisamos estudar lento.

• Por que estudar lento?

“Estudar lento, desenvolvimento rápido. Estudar rápido, desenvolvimento lento.” – Carlos Sulpício. “Pratique lentamente: não toque algo no tempo até que você possa tocar em um tempo dobrado.” – Thomas Hooten.

Estudar lento é a chance que você está dando para o seu cérebro, para po seu corpo e seus ouvidos se acostumarem com o trecho que você está estudando.

Cérebro

Pensar, traçar metas, objetivos, usar a inteligência a favor do seu estudo e desenvolvimento, planejamento o seu dia de estudo e da sua carreira, estar concentrado. “Ter uma estratégia de aprendizado é algo que qualquer um pode adotar. A técnica é a habilidade necessária para usar bem a estratégia.”2 – Jhonathan Harnum.

Em qualquer estudo devemos ter objetivos claros de onde estamos e onde queremos chegar. “Não existe atalho musical, devemos ser conscientes e metódicos” – John Hagstron. Respeitar e confiar no professor são pontos fundamentais e você vai tirar proveito disso. Ter regularidade, perseverança, fé e variedade no estudo são as chaves para um bom desenvolvimento.

2 Harnum, J. The Practice of Practice.

Guiliano Sommerhalder diz: “Você deve pensar como gostaria de soar, trabalhar tudo com bom som e ir somando as coisas isoladas. Para isso, requer um grande trabalho intelectual mais do que um trabalho físico.”

David Bildger diz que: “O aquecimento tem fundmentalmente duas importâncias: Primeiro, o de despertar o seu cérebro e o segundo, a prática dos conceitos básicos da técnica.”

II – Rotina de Estudos

Música é um tipo de comunicação, certo? A beleza da música faz com que nós nos conectamos com as pessoas. A maioria de nós esquecemos disso quando estamos estudando. Por isso, tentar tocar musicalmente e pensando nos resultados e usar a rotina como meio de alcançar os seus objetivos. Pode fazer de sua vida algo muito mais prazeroso e fazer com que você soe mais

fácil.

• Uma pergunta recorrente é: Como posso soar mais fácil?

Consistência é a coisa mais importante. Você pode desenvolver mais rápido do que você imagina se tiver objetivos claros na sua rotina e ser consistente naquilo que você se propôs. Assim, tendo maior resuldado com o mínimo de esforço.

Primeiramente, fazer a sua rotina de estudo virar uma rotina diária, ou seja, ter o estudo como parte do seu dia a dia, assim como comer, tomar banho, escovar os dentes, etc. Faça do seu período de estudo algo sagrado um tempo para você. Lembre-se você é o maior interessado nisso.

Uma frase do Byron Stripling no último Jazz Trumpet Festival foi: “Tenha certeza que você estudou pelo menos uma hora antes do meio dia.”

Tem gente que gosta de fazer a mesma sequência de estudos ou aquecimento todos os dias. Outros preferem fazer coisas diferentes e variadas. Nenhum dos dois estão errados mas tudo vai depender um um planejamento prévio. Ou mesmo definir se aquele dia de estudo vai ser um dia de manutenção ou um dia de desenvolvimento.

Tenha uma agenda detalhada de sua prática, então você poderá avaliar seu progresso todo o tempo. Tenha também um caderno de trompete, tomar nota das suas aulas é fundamental e rever cada item trabalhado em aula. Tenha certeza que você está evoluindo de certa maneira, se você não está tentando melhorar, você está piorando. Faça essas anotações no mesmo dia da sua aula, se deixar para o dia seguinte você vai esquecer pelo menos 60% das informações.

Não podemos deixar de fazer a rotina nem mesmo no dia da performance. Talvez você não

precise fazê-la inteira, mas conferir se os lábios estão vibrando de maneira que voce está acostumado. Não podemos esquecer que nós trompetistas somos atletas de pequenos músculos, assim como os atletas precisamos aquecer, alongar, cuidar da alimentação, do corpo e das horas de descanso. Tudo isso vai influenciar na sua performance.

PRÁTICA DIÁRIA

• Como se manter motivado?

Isso vai da idéia clara dos seus objetivos enquanto músico e da paixão que você tem com o instrumento. Pacho Flores disse que: “ele toca trompete desde os 8 anos de idade e que com 12 anos ele se apaixonou pelo instrumento. E que não existe prazer maior para ele do que acordar e poder tocar o seu trompete.”

Ter grandes trompetistas como referência e a vontade de tocar como eles pode te motivar.

Ter um bom professor que possa te inspirar.

Ter certeza que você está se divertindo quando faz música. “Não há nada mais sério do que se divertir.”3 Don Cherry trompetista de jazz.

No livro The Practice of Practice de Jonathan Harnum, ele estrevista vários músicos das mais diversas áreas e uma das entrevistas é do segundo trompete da New York Philarmonic Ethan Bensdorf. Mas uma das observaçõs do autor é que todos os músicos entrevistados tem um prazer imenso na hora de estudar. Quem já teve a oportunidade de conversar com o Professor Gilberto Siqueira sobre trompete e estudos vai entender do que estou falando.

Muita gente fala sobre talento. Pessoalmente, acredito que tudo é questão de técnica e técnica pode ser aprendida. Lógico que você vai se deparar com gente com mais facilidade para determinada habilidades. Alguém que toque mais rápido ou mais agudo que você. Mas nada que boas horas no seu quarto de estudos não façam você chegar nos seus obejetivos.

Talento é uma questão difícil de definir. Porque já me deparei com alunos que tem muita

3 Harman, J. The Practice of Practice. Sol Ut Press. 2014.

facilidade mas são desleixados com o estudo e outros com problemas sérios de embocadura ou que usam aparelho nos dentes que são extremamentes comprometidos com os estudos. Qual desses dois sujeitos vocês acham que vai chegar mais longe? Por outro lado que “Talento não é uma misteriosa habilidade natural. Talento é a prática disfarçada. E a prática é mais do que voce imagina.” – Jhonatan Harnum.

Hoje em dia o trompetista brasileiro precisa fazer um pouco de tudo, erudito e popular e deve estar preparado para esses tipos de situação. Por isso, estudar um pouco de tudo vai te deixar pronto para os mais diversos tipos de trabalhos.

• CONCENTRAÇÃO

“Cada músico, não importa quão bom seja, comete erros. Mas muito melhores são os resultados quando fazem as duas coisas: não tolerá-los em sessões de práticas, corrigindo o menor dos acidentes (também praticando com concentração e lentamente o suficiente para que os erros não sejam aprendidos); e na performance, reagem a qualquer erro imediatamente elevando seu nível de energia e concentração, permanecendo tranquilo e agressivo”. Chris Grekker

Estar no tempo presente. Quanto mais presente você mais você vai fazer bem. Utilização do cérebro no lugar certo, se esta dirigindo você está dirigindo, se está estudando você está estudando, etc etc.

• O que deve conter na sua rotina.

Acredito que não tenha nenhuma novidade nos itens a seguir mas esses ítens devem ser organizados para que sua rotina tenha consistência.

1. Buzzing (com referência)

2. Notas longas

3. Tocar com som bonito

4. Afinação (com o afinador ligado)

5. Bend

6. Estudar com metrônomo

7. Flexibilidade

8. Trillo de lábio

9. Extremos nas dinâmicas

10. Dinâmicas bem definidas

11. Extremos nos registros

12. Ataques com sílabas fortes

13. Ataques com sílabas suaves

14. Estudos de técnica

15. Estudos de Fluência

16. Escalas, maiores, menores, cromáticas, de tons inteiros, modos

17. Arpejos

18. Stacatto simples

19. Stacatto duplo

20. Stacatto triplo

21. Ouvir gravações como parte do estudo

22. Música que você goste

23. Estude mentalmente

24. Cante precisamente as melodias ou intervalos que está tocando

25. Estudos

26. Solos

27. Transposicão

28. Jazz

29. Improviso

30. Leitura a primeira vista

31. Estudo em outros trompetes (Flugel, Trompete em Dó, Mib, Piccolo)

Outras coisas que você pode fazer para ajudar no estudo.

1. Concentração.

2. Plano de estudo.

3. Tocar em grupo.

4. Tocar musicalmente o tempo todo.

5. Tocar em público de maneira informal.

6. Estudar com um amigo.

7. Estar no tempo presente.

8. Ver os outros tocando ao vivo, não precisa ser trompete.

9. Tirar música de ouvido.

10. Improvisar.

11. Compor.

12. Se gravar.

13. Dar aulas.

14. Ter o hábito de ouvir música com ouvido de músico.

15. Tocar uma música toda sem parar.

16. Estar apto para tocar um pouco mais rápido ou um pouco mais lento.

17. Tocar sem aquecer.

Em suma, isso é apenas a parte “burocrática” do estudo, temos que estar nos divertindo e fazendo música a cima de tudo, conecte com quem está te ouvindo, pense sempre na platéia. Se você está sofrendo em tocar um instrumento, para que serve? Então faça música de maneira prazerosa, deixe as emoções virem do coração. Não seremos ricos tocando um intrumento mas existe muita satisfação em tocar.